quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Escrever uma história, taí minha única ambição. Uma história que comovesse o coração secreto das mulheres. O coração das mulheres é uma trincheira alemã e não se pode descer uma trincheira com tulipas e boas intenções. Uma história mentirosa, irreal, delirante, mas que estivesse próxima o suficiente da vida a ponto de imitá-la. 
Quando a verdade, por puro capricho, atormenta a vida de qualquer artista (por mais bundão o artista), ela é como um quadro de Modigliani: pescoço alongado e olhos vazados, corpo nu e alma arrebatada.
Uma história que fosse minha e não precisasse de mim. Talvez um mito. Quem sabe a lenda de um amor medieval sacaneado pelas circunstâncias de seu tempo. Um amor que nunca aconteceu e jamais acontecerá.
Assim como os homens, as histórias que contamos tem endereço certo: o esquecimento -- única agonia e único consolo.
O esquecimento é a garota que jamais nos abandonará. O esquecimento é a estrada de ferro por onde passam todas as histórias. O esquecimento é uma canção de despedida do Nelson Cavaquinho. Um enterro sem mulatas. Um samba sem adeus.
O esquecimento e a capacidade de contar histórias são as únicas coisas que nos ligam aos deuses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário