terça-feira, 12 de setembro de 2017

Não que a vida perto do mar seja mais fácil. Há engarrafamento na orla de João Pessoa. As mulheres também não amam no Cote D'azur. Perto do mar, os juros do Itaú e a TV e o Rádio e as briguinhas de facebook e os mendigos e a Av. Getúlio Vargas... falam todos o mesmo idioma nacional. Perto do mar também se morre. Perto do mar há os que se lançam indefesos em busca da morte salgada. Parafraseando o outro: a morte é a morte e suas circunstancias, certo? Não é sequer o caso de dizer que a beleza salva. Que a beleza suaviza a manhã e embala a noite. Que a beleza isso ou aquilo – que ela é um santo remédio, pode apostar que sim, mas não é o caso.
Acontece que tenho me esparramado na rede da sala. Como uma criança sem escrúpulos imaginativos, faço de conta que o céu é o mar – de cabeça pra baixo, porém o mar. As raras nuvens de setembro que volitam o planalto central me parecem as ondas espaçadas do calmo oceano goiano que não existe, meu Deus, mas que há de existir, há de existir!
Às vezes meu corpo sonolento faz do barulho do ventilador Arno três rotações o soluço embriagante das águas que se chocam contra o tempo das falésias.
Esporadicamente acendo um cigarro enquanto tomo banho e de olhos bem fechados é a chuva marítima que me invade o peito ensaboado.
Uma vez ou outra ligo para um parente ou amigo natalense e pergunto meio desinteressado:
- Vem cá... Vem cá... Esse barulho aí no fundo... Esse barulho... É do mar?
Sempre, SEMPRE, “esse barulho é do mar, André, é do mar”.

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