domingo, 1 de maio de 2016
Preciso, e o quanto antes, da emoção de criança
quando encontrei “Lumar”, o Tubarão-cadáver ainda intacto e prestes a ser
devorado pelo tempo – Cotovelo, 1998. Lumar foi como resolvi chamá-lo. Fui uma
criança prodigiosa em batismos. Todavia, não vem ao caso. Preciso, se não for
pedir muito, da razão que perdi – a troco de quê, ainda não descobri – quando
lancei meu primeiro-único-e-fracassado livro no distante ano de 2010. 2010 reside
numa viela do passado triste, escura e inabitável. Nelson Rodrigues e a velha
frase: “Nada mais distante que o passado-recente.” Em 1998 eu me infiltrava
entre os poucos livros de meu pai, sorrateiramente guardados na estante da
sala, como um móvel inútil a enfeitar o tédio gelatinoso da casa, e bem... eu
já sabia ler e lia/li em letras garrafais “Nelson Rodrigues, Literatura
Comentada”, e aquele livrinho foi o brinquedo mais
precioso de minha infância. Eu era como um pequeno bezerro hipnotizado pela
imagem do Nelson – gordo, macilento e de suspensórios, com um cigarro na mão,
fazendo cara de sério para eternidade. Aquele homem desconhecido e aquele nome “Nelson
Rodr...” tinha algo a me dizer, mas eu ainda não sabia o quê. Não muito tempo
depois, resolvi investigar o que havia para além da imagem do autor. Abri o
livro. Li o livro – no banco de trás do Chevette verde de meu pai, escondido
dos habitantes da casa. E o resultado: Álbum de Família, Anjo Negro e Senhora
dos Afogados – minha introdução à literatura foi através do Nelsão e,
ironicamente, do teatro. Sem sombra de dúvida, aquilo mudou minha vida – não sei
se pra melhor, mas mudou. Em 2010, quando do lançamento do meu Oxum da rua de
trás, outra de suas frases me fisgou de jeito e me acompanha desde então: “O
artista quer ser gênio para alguns, e imbecil para outros. Se puder ser imbecil
para todos, melhor”.
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